segunda-feira, 15 de junho de 2009

De corretor a empregado de mesa


Li hoje uma notícia de um corretor de uma firma americana que actua nos mercados financeiros, que foi despedido na onda da actual crise. Até ali ele via os desempregados como preguiçosos e que não queriam fazer nada. Até que lhe aconteceu a ele. Frequentador que era de restaurantes de luxo e habituado a programas sociais interessantes e frequentes. A mulher é secretária de administração e têm duas filhas a estudar. Até ao momento não arranjou outra coisa além de empregado de mesa de um restaurante de luxo, do qual era cliente frequente até há algum tempo. Tem despesas fixas mensais de 400o euros e os rendimentos dos dois somam 2800. As poupanças, que têm vindo a segurar a diferença, estão a esgotar-se rapidamente. Passa duas horas por dia na internet à procura de emprego. Os telefonemas e emails a amigos e ex-colegas de curso e profissão têm sido uma constante. Trabalha pois agora como empregado de mesa. Mas trabalha, não está parado. Faz de algo de útil e obtém diaria, semanal ou mensalmente um rendimento por isso. Consta que a diferença de salário de outrora é de 140 mil para 17 mil euros anuais, agora. Diferença brutal, portanto. Mas as contas para pagar, a consciência das prioridades, a vontade férrea de que há coisas essenciais de que as filhas têm de continuar a ter são mais fortes. Mais fortes do que a humilhação que outros sentiriam em Portugal pela simples perspectiva de semelhante opção, à falta de melhor ou ao subsídeo de desemprego. A diferença começa na mentalidade. Mas também na visão e humildade. Que é o reconhecimento da minha verdade, a cada momento. Nada tem a ver com resignação, que significa atirar a a toalha ao chão ou desistir.
Este homem serve refeições a anteriores colegas e clientes, como funcionário. Não é para o estômago de todos. Mas é uma lição de humildade e de vida.
Não esqueçamos que perdeu um bom e confortável emprego, não a inteligência, a capacidade de pensar, a visão e a ambição. Este homem está de parabéns.
Nuno Rodrigues