terça-feira, 6 de outubro de 2009

Parabéns Barak Obama, Prof. Yunus e Grameen Bank !



Em Agosto passado o presidente Barak Obama distinguiu várias personalidades com o maior galardão civil daquele país, a Presidential Medal of Fredom, ou Medalha Presidencial da Liberdade. Entre elas estava o fundador e líder do Grameen Bank, Prof. Muhammad Yunus, pai do microcrédito, do Bangladesh,.
Trata-se do homem que foi galardoado com o Prémio da Paz 2006, em reconhecimento do notável trabalho que o Banco Grameen tem feito em prol do desenvolvimento. De resto, não deixa de ser interessante ter-lhe sido atribuido o nobel da Paz e não o da Economia.
A partir da leitura d´“O Banqueiro dos Pobres” fica-se a conhecer a sua filosofia e a sua forma de estar enquanto Economista. Nascido no Bangladesh e numa família numerosa, o seu pai era ourives e por isso nunca soube o que era pobreza ou fome. Formou-se no seu país, e com uma bolsa de estudo rumou aos EUA para fazer o doutoramento nessa área. Regressado ao seu país natal, logo começou a dar aulas na universidade de Chitagong e a trabalhar em departamentos estatais de planeamento.
Estava-se na década de 70 e nessa altura o país enfrentava enormes problemas de seca. Isso significava pobreza extrema, fome e mortes. Todos os dias contactava com o todo o tipo de problemas. Como homem sensível não lhes conseguia ficar indiferente. Não baixava os braços. Até que um episódio mudou a sua vida. Tomou várias iniciativas para minorar os dramas.
Decidiu penetrar no seu interior para conhecer como viviam as pessoas da aldeia de Jobra, junto da universidade. Viu uma mulher a trabalhar o bambu e quis perceber como ela vivia. Perguntou-lhe como comprava a matéria prima, ela respondeu que a comprava por 5 taka (moeda local), que não tinha e por isso os pedia emprestado aos “paikard” (prestamistas ou usurários) na condição de lhes revender o produto no fim do dia. O excedente era o equivalente a dois cêntimos de dólar, com o que se alimentava e à família todo o dia. Perguntou-lhe ainda porque não pedia o dinheiro emprestado ao que ela respondeu que aqueles lhe levariam muito. Havia casos de dez por cento à semana e até ao dia. Percebeu a lógica de empréstimos a juros altíssimos ali implicita. Usura pura. Que mantinha muita gente na total dependência, muitas vezes até à morte.
Ficou a saber que havia bastante mais gente naquelas condições. A seu pedido, facultaram-lhe depois uma lista de 42 pessoas envolvendo um total de 27 dólares. O que aconteceu a seguir levou ao que é hoje o Grameen Bank e todo o conjunto de empresas e outras organizações, com e sem fins lucrativos, à sua volta, viradas para o objectivo de lutar contra a pobreza e dar dignidade às pessoas que nada têm, através do crédito.
Não se trata só de dinheiro. Trata-se de uma revolução silenciosa de desenvolvimento no campo económico, social. Desde há perto de 40 anos a esta parte, aquele país, o Bangladesh, maioritariamente muçulmano com uma população 14 vezes superior a Portugal, enfrenta sérios problemas de secas frequentes e que causam enormes problemas alimentares porque depende muito da agricultura.
Naquele dia, o coração foi mais forte e o próprio emprestou o dinheiro do seu bolso àquelas pessoas, sem fazer nenhuma ideia se o recuperaria. Mas disse-lhes que queria o dinheiro de volta, sem qualquer juro. Não era banqueiro. O resultado foi que as pessoas reembolsaram integralmente, o que muito o surpreendeu. Além de ter provocado um enorme efeito libertador.
Perguntava-se porque não podiam estas pessoas ir ao Banco pedir emprestado. O gerente do banco, ali no campus universitário, riu-se para o Prof. Yunus. “Essas pessoas não são dignas de crédito porque não têm nenhuma garantia para dar”. Que batalhas se lhe seguiram. Com a vitória da persistência e do acreditar que era possível transformar aquela realidade e fazer algo pelos outros.
O Prof. Yunus foi ganhando visibilidade e prestígio internacional, apesar das enormes desconfianças e do incómodo que a filosofia do Grameen Bank representa para o mundo ocidental. Por vezes a inovação é tão grande que demora a impôr. Esta revolução na forma de financiar a engenharia humana de empreender há muito ultrapassou fronteiras do Bangladesh, há réplicas em mais de cem países dos cinco continentes, incluindo os países desenvolvidos.

Parabéns Barak Obama, Prof Yunus e Grameen Bank !!

Nuno Rodrigues




2 comentários:

  1. Parabéns por este post!
    Que bom recordar a génese do Grameen Bank!
    O privilégio que tivemos em 2001 de o conhecer pessoalmente na sua deslocação a Lisboa ainda reforçou mais o fascinio por esta história. Yunus é um homem GRANDE, de extraordinária simplicidade e empenho, que não se deixou ficar de braços cruzados e que mudou decisivamente a vida e a forma de olhar o crédito na actualidade.
    Um verdadeiro revolucionário dos nossos dias!

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  2. Olá Nuno,
    obrigada pelo convite para conhecer teu blog, hoje uma ferramenta importante para a reflexão do cotidiano e dos temas que nos confrontam.
    No universo das idéias, todo contributo é importante para decodificar esse 'puzzle' imenso que é o mundo, e que nos põe a pensar.
    Parabéns.
    Sylvia Cohin

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