Atualmente, esta é uma das palavras mais referidas como forma de escapar
à crise. Por todo o lado nos incitam a tomar nas nossas mãos a criação do
próprio emprego.
E como podemos arriscar quando
todos os dias somos bombardeados com notícias de fecho de empresas? Como
arriscar quando as notícias destacam e empolam muito mais os insucessos que os
sucessos? E a nossa autoestima é um alvo à espera da destruição.
Pessoalmente, gostaria de poder
desenvolver a minha própria ideia de negócio, até porque sei concretamente o
que quero e o que não quero na minha hipotética empresa. Mas como concretizar
esta ideia sem a ajuda de um sistema bancário que quer garantias exacerbadas
face ao valor dos empréstimos? E quem empresta dinheiro a um desempregado
quando este pretende criar o seu próprio negócio? Quem “arrisca” colocar
quantias substanciais nas mãos de um homem ou mulher que apenas tem como
garantia o “saber fazer”?
Para provocar uma rutura neste sistema
estagnado teremos de passar inevitavelmente por uma cultura de iniciativa.
Durante os anos 30 do século
passado viveu-se na Europa a primeira crise à escala mundial, consequência do crash
bolsista de 1929 em Nova Iorque. A saída da crise passou, nos EUA, pelo “New
Deal” e na Europa, por um reforço de medidas de proteção social. Mas a Europa
veria ainda mais agudizar-se a sua situação com a Segunda Guerra Mundial.
No final da guerra, a Europa
destruída encetava um caminho de reconstrução onde os empreendedores foram
fundamentais. Arriscar numa época de crise foi uma das formas mais eficazes
para a Europa se reerguer.
Então, porque tememos tanto
atualmente arregaçar as mangas e encetar novos projetos?
Todos sabemos que o empreendedorismo
é o principal fator promotor do desenvolvimento económico e social de um país.
Identificar oportunidades e conseguir transformá-las num negócio lucrativo é o
papel do empreendedor.
O empreendedor deve ter como
característica básica o espírito criativo e de pesquisa. Deve continuamente
procurar novos caminhos e novas soluções, alicerçando-se numa constante
preocupação com a melhoria do produto final. O empreendedor não pára, não
estagna no tempo. Acompanha as frenéticas mudanças e reage por antecipação, sem
nunca descorar uma pesquisa consolidada e uma exaustiva avaliação dos riscos,
dos pontos fortes e pontos fracos. O empreendedor caminha, de mão dada, com o
marketing e as relações humanas. Olha a inovação sem receio de ficar
desatualizado porque a sua meta é uma busca de constantes transformações
sonhando com a perfeição. No entanto, tem consciência que a perfeição é uma
espécie de mito do eterno retorno e nunca está terminada. Mas não desiste na
sua busca incessante. É este o seu néctar, o seu alimento, que o faz ressurgir
das cinzas a cada insucesso.
Então, se todos sabemos que nos
empreendedores está o segredo do motor de uma civilização, porque lhe damos
(Estado e Sociedade) tão pouco apoio? Porque os incentivamos tão pouco?
Positividade, organização,
criatividade e inovação são qualidades que não faltam ao povo português. Mas
será que temos a disposição necessária para assumir os riscos? O empreendedor é
aquele que tem esta capacidade de os assumir e de os conseguir vencer.
O Prémio Nobel da Paz Muhammad
Yunus, que conheci pessoalmente durante uma visita que fez a Portuga, foi o
incitador de enormes mudanças da minha perspetiva pessoal face ao mundo
empresarial (conceitos como crédito sem garantias, crédito sobretudo a mulheres
num contexto muçulmano, crédito num espírito de grupo e entreajuda e tudo isto
com taxas de recuperação de capital próximas de 100%). Assumindo a incapacidade
da participação do estado no fomento do empreendedorismo, Muhammad Yunus
defende a empresa social como uma das formas eficazes de criação daquilo que
todos sonhamos: um mundo sem pobreza.
Quando conhecemos, com algum
detalhe, esta revolução que o microcrédito vem concretizando, seja no país
berço de Yunus, o Bangladesh, seja um pouco por todo o mundo, começamos a olhar
duma forma diferente e tomamos consciência de que vivemos num mundo norteado
por um capitalismo selvagem e total ausência de valores. Há que fazer
diferente. E como? Devemos assumir-nos, enquanto sociedade, como incapazes de
liderar este processo de mudança?
Cada vez mais acredito que não…
A mudança passa pela sociedade civil. Pela forma como esta reage às crises e
acorda para as necessidades daqueles que nos rodeiam. O segredo está no
empreendedorismo social.
Neste contexto, o empreendedor tem
como objetivo a maximização deste capital social (o poder da capacidade humana)
desenvolvendo programas, iniciativas e ações para que a sua comunidade, região
ou país se desenvolvam de forma sustentável. A mais eficaz é fomentando a
participação no “espaço público” a todos, mesmo aos que se encontram em
situação de exclusão ou de risco.
O empreendedor social utiliza técnicas de gestão, inovações produtivas,
utilização sustentável de recursos naturais e muita, muita criatividade para
fornecer produtos e serviços que possibilitem a melhoria das condições de vida.
A lógica da ação visa promover a autonomia e responsabilidade dos
destinatários, sendo que estes também devem ter um papel ativo e participante
na própria ação. Mais do que “dar o peixe” é ensinar a pescar. O grande
objetivo é superar os desafios sociais e por isso é fundamental a
sustentabilidade. A sustentabilidade financeira deve ser mais do que uma
preocupação de sobrevivência, deve ser um fim em si, um requisito basilar para
nortear a existência do projeto.
Como Florence Nigthingale, uma das primeiras empreendedoras sociais
durante a Segunda Guerra Mundial, devemos perder o medo e deixar de nos
isolarmos nos nossos próprios infortúnios, trabalhando em equipa, arriscar de
forma sustentável e sustentada, tendo o bem comum e a felicidade do outro como
meta. Porque nenhum de nós é feliz, ainda que tenha um enorme espólio ou bens
materiais, se estiver sozinho.
É assim que eu vejo o empreendedorismo e o seu benefício para toda a
comunidade, pelo que esta tem todas as razões para o estimular e apoiar.
Maria Helena Peixoto
Sem comentários:
Enviar um comentário